sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O PRAZER DE CULTIVAR ORQUÍDEAS

Érico de Freitas Machado

Gostar de orquídeas é ter bom gosto e saber apreciar uma das mais belas criações da natureza. Ser orquidófilo é mais do que ter um hobby ou ser simplesmente um colecionador. É um estado de espírito, uma satisfação íntima de estar em contato com um ser diferente — a orquídea — que nos proporciona prazer momentâneo — quando do aparecimento da flor — nos traz alegria de ser possuidor de uma planta ímpar à qual nos apegamos e que nos leva a novos conhecimentos pessoais, inclusive ao aprimoramento nos contatos sociais, nos oferecendo um pequeno mundo que compreendemos e vivemos.

Geralmente o iniciante aprecia a flor: um "objeto" bonito. Quase sempre só as cores impressionam. Depois, o contato com outros orquidófilos e a aprendizagem começa. Muitos levam tempo para a assimilação da realidade da flor, compreender as verdadeiras nuanças, segmentos florais, textura, forma, harmonia e outros pormenores. Então é preciso uma grande vivência orquidófila e a familiaridade com muitas plantas de cada espécie.

Tudo isso vem de longe e porque essa flor, de enorme tamanho em relação ao porte da planta, tem chamado a atenção das pessoas, principalmente pela sua beleza.

Além dos colecionadores, houve interesse dos floricultores para o comércio das orquídeas e isto foi o grande passo para o desenvolvimento orquidófilo em todo o mundo.

Os colecionadores diversificaram suas coleções, tendo ficado, inicialmente, restritos a orquídeas nativas, devido à dificuldade de multiplicação das mesmas por meio de sementes. Com a descoberta, por Knudson, estudioso inglês, de uma fórmula química que permitia a germinação das sementes em laboratório, tornou-se mais fácil produzir novas plantas, principalmente as híbridas e espécies mais apreciadas, dando novos rumos e novas esperanças aos aficionados. Técnicas mais modernas de plantio e o fantástico sistema clonal (meristemático), além da aplicação de hormônios, adubos e outros causaram um desenvolvimento sem par na orquidofilia moderna.

Surgiram grupos e sociedades e mostras e exposições começar a ser feitas. Aumentou o interesse. Flores brancas (albinas), que se constituíam em raridade, hoje são apreciadas da mesma forma, mas de um modo mais comum, pois estão ao alcance, inclusive, dos colecionadores de poder aquisitivo mais modesto. Depois surgiram as "febres" das amarelas, das verdes, das vermelhas, das mini-orquídeas... Flores selecionadas oriundas dos mais diversos países foram as matrizes para híbridos F1 e posteriormente híbridos de híbridos, atingindo atualmente uma gama difícil de ser avaliada pela sua diversificação.

Nesse universo orquidófilo, o Espírito Santo está representado com alto índice na contribuição, com espécies de destaque, tanto pelo tamanho das flores, quanto pela raridade de alguns exemplares. Os dois gêneros padrões (Cattleya e Laelia) oferecem aqui mais de quinze espécies diferentes, além dos subtipos e variedades, numa pujança talvez não igualada em qualquer outro lugar, levando-se em conta a pequena área do seu território.

O ponto triste desse mundo encantado, que descobri há mais de quarenta anos ao iniciar minha coleção — felizmente tendo a visão de continuar e dar preferência às nossas plantas, contando hoje com grande volume de indivíduos e mais de quatrocentas espécies nativas autóctones — é a destruição das matas onde as orquídeas viviam em espetacular quantidade e que, em altíssimo percentual, desapareceu juntamente com a mata. A grande vantagem, contudo, é que existe entre os colecionadores o gosto para todos os tipos e formas de flores, das enormes, como a Cattleya warnery, que chega a ter mais de 20 centímetros de diâmetro, até as minúsculas, como a Barbosela handrei ou os pequeninos Pleuroctalis, de um ou dois milímetros. E as coleções aparecem com 50, 100, 1.000 ou mais exemplares, em espaços de um metro quadrado, ou extensas áreas de avantajados galpões. Pequenos espaços de apartamentos, quintais de casas, sítios e outros ambientes servem para o cultivo dessas incomparáveis plantas, e tudo isto tem contribuído não só para o deleite pessoal, mas também para a conservação e preservação dessa planta diferente, quase irresistível e tão atraente que parece envolta em certo manto de mistério.

Um comentário:

  1. Muito bom seu conteudo.
    Estou iniciando minha colecao tardiamente, pois desde muito novo sempre as admirava e as desenhava..Apenas nao sabia se realmmete elas existiam. E ha pouco passei conviver com elas ao ponto de comprar um pequenissimo lote em outro Estado e ser criticado pelo meu invsmestimento ainda mesmo que arriscado e emirico.
    Amo essas plantas. E pretendo ter sucesso com seus ensinamentos e demais.
    PARABENS!!
    Trindade

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